[vou te contar #11] blue valentine
“Amiga, escreve sobre aquele filme lá que você me indicou” Vini
Hoje vou te contar sobre: meu filme desconforto
Tempo estimado de leitura: 5min 25sec
Não sou de rever filmes. Quando amo um filme, guardo a recordação de como ele fez com que eu me sentisse no momento em que o assisti. Revê-lo poderia ocasionar frustração na busca de reencontrar aquele mesmo sentimento.
Há algumas exceções, claro, já que todos temos algum filme conforto, que vemos e revemos seja para nos sentir melhor depois de um dia ruim ou apenas quando não queremos pensar muito e só aproveitar um sentimento bom. Tenho alguns filmes conforto, e na contramão de tudo isso, também tenho filmes desconforto.
É que também não sou de fugir dos sentimentos incômodos, quando estou triste, ouço músicas ainda mais tristes para emergir naquela emoção até que ela resolva partir por si só. Algumas vezes, no lugar da música, revisito alguns filmes com potencial de me despedaçar e trazer à tona diversas tristezas que existem na vida, refletir sobre a existência ou emular sofrimentos sentidos por um outro alguém na ficção. Um desses filmes é Blue Valentine (2010).
Assisti Namorados para Sempre (nome em português) pela primeira vez há alguns anos, em uma época na qual decidi que veria todos os filmes com Ryan Gosling que existem, indiscriminadamente. O objetivo era comprovar que ele faz praticamente o mesmo papel em todos os filmes, o dele mesmo, e que ainda assim é um excelente ator. E assim foi.
Mas ao contrário do que sugere o título em português, não encontrei o doce do amor eterno no enredo, e sim o amargo da realidade, da existência, da vida e principalmente do fim do romance. Este é sem dúvidas um filme fiel ao retratar a visão realista de uma relação, do principio ao fim, na forma dolorosa e crua como ela pode ser.
Arrisco dizer que isso é necessário de se ver de vez em quando, para colocar os pés na realidade e fugir da ilusão de “felizes para sempre” implantada pela Disney nas nossas mentes, desde a infância.
É sábado a noite, e cá estou novamente imersa na minha tristeza e na história dos jovens Dean e Cindy, deve ser pelo menos a quarta vez que revejo esse filme nos últimos anos, todas as vezes ele só melhora e eu também melhoro com ele.
Reparo em como o roteiro oferece ao espectador pequenos mergulhos no que pode haver de melhor e pior na relação de um casal, que como qualquer outro comete erros e faz escolhas com o potencial de impacta-los por toda suas vidas.
Observo como as renuncias em prol do afeto maior se dão também na maternidade e nas relações familiares.
Passeio como se fosse a primeira vez do início apaixonado, cheio de expectativas, até o momento em que a rotina árdua toma conta da relação do casal, faz ir embora a capacidade de dialogar, e como isso abre espaço para inúmeras mágoas, propositais ou não.
Sempre choro na mesma parte.
Choro porque sei, o cinema é espelho da realidade. Faz parte do amor romântico as entregas e inúmeras concessões feitas ao longo da vida, e não importa quantas, elas nem sempre são o bastante para manter a chama acesa. Logo chegam as consequências de assumir os sonhos do outro. Frustração e invisibilidade são só algumas delas. É quase possível sentir a sensação de impotência da tentativa de salvar algo que já não existe mais. Dói neles, dói em mim também, dói em qualquer um que já tenha passado por qualquer situação minimamente similar.
Pode ser que ao final você prefira o lado da Cindy, talvez você culpe o Dean, pode ser que você entenda o Dean e culpe a Cindy, mas para mim, Blue Valentine é sobre entender que em alguns fins, não há culpados, ou pelo menos não um só, já que escolher se relacionar é ter culpa em diversos momentos, e ser injustiçado em outros também. Embora sejamos responsáveis por nossas escolhas, não somos as únicas vítimas ou reféns das decorrências.
Procuramos a quem culpar o tempo todo para justificar algo que muitas vezes é apenas parte do curso natural da vida, que precisa seguir. Às vezes é só a vida mesmo, e essa é a parte mais dolorosa, na realidade ou na ficção.
O amor não é fácil, não tem explicação e pode trazer à tona o melhor e o pior de nós, fazendo com que as pessoas reajam de forma por vezes irracionais e fiquem cegas para coisas que provavelmente não deveriam estar.
Namorados para Sempre é um filme sobre corações partidos. Mas para se ter um coração partido, é preciso antes ter amado. E amar, mesmo sabendo que haverá inevitavelmente um fim, seja em vida ou na morte, ainda é uma dádiva.
Nem sempre podemos ser “namorados para sempre”, mas há sempre a possibilidade de criar novos caminhos e permitir que o amor flua para sentimentos renovados de cura e afeto pleno, já que mesmo que alguns momentos bons encontrem o fim, eles podem nesse fim, se transformar.
Namorados para Sempre está disponível na Netflix e no Prime Video.
Curiosidades
Para fomentar as crises do casal e fazê-las parecer o mais real possível, Michelle Williams , Ryan Gosling e Faith Wladyka viveram realmente juntos em uma casa na Pensilvânia, por um mês enquanto filmavam. Eles passaram pelo estresse real de ter que dividir um banheiro, lavar a louça três vezes ao dia e viver com o orçamento da família baseado no salário de Dean como pintor de casas e Cindy como enfermeira, U$200 a cada duas semanas. Gosling afirmou que foi difícil para ele e Williams tirar suas alianças de casamento quando tudo acabou.
Pouco antes do início das filmagens, o diretor Derek Cianfrance desistiu de seguir o roteiro e pediu para que os atores improvisassem todas as suas cenas durante a gravação do filme.
As filmagens precisaram ser suspensas por um tempo devido à morte do ator Heath Ledger. Os produtores e o diretor atrasaram o filme por respeito a protagonista Michelle Williams , ex-esposa de Ledger e mãe de sua filha Matilda.
Podcast
Este é um episódio antigo que eu gosto muito do Podcast New Me, apresentado pela psicóloga Louise Madeira, que vem de encontro com um pouco do que falei acima.
Uma reflexão sobre a importância de prestar atenção nas pessoas que fazem parte da nossa biografia.
“Só se vincula quem escuta. O problema da convivência é o costume que apaga a magia. No costume o sensacional passa a ser banal”
Louise Madeira, psicóloga
Filme
Como não me alimento só de filmes tristes, segue a recomendação de um filme de amor divertido e apaixonante que assisti no último final de semana e está disponível no StarPlus. O melhor de tudo: tem apenas 90 minutos de duração.
Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical, e com uma indicação de Melhor Ator para Andy Samberg, Palm Springs (2020) é uma comédia romântica com doses de ficção científica, que conta a história de Nyles, um homem relaxado e sem preocupações. Quando ele conhece Sarah, a relutante madrinha de casamento de uma cerimônia em Palm Springs, se vê incapacitado de deixá-la ou deixar o local.
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