[vou te contar #10] o mundo dos pares
Hoje vou te contar sobre: codependência afetiva
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Faltam poucos dias para a data festiva nacional intitulada pelo pai do João Dória como Dia dos Namorados. E não, ele não inventou o amor, tampouco o é santo padroeiro da monogamia. Apenas um publicitário renomado criando um motivo comercial para aquecer as vendas em um mês um tanto quanto fraco para os lojistas, numa iniciativa quase cínica de motivar a venda de arranjos florais para pessoas vivas e saudáveis, movimentar o comércio de bichos de pelúcia com foco em adultos e superlotar motéis.
Acertou tão em cheio na psique do público alvo, que todo ano, meses antes já tem gente deprimida, contando os dias em um enorme desespero, na expectativa de conseguir alguém só para não estar sozinho nessa data ou em qualquer outra que vier, mas a custo de quê?
Na escola, desde muito cedo aprendemos que o ciclo de vida de nós, os seres humanos é: nascer, crescer, se reproduzir e morrer. De fato, nascemos, crescemos e morremos. Com certa frequência nos reproduzimos, mas, constantemente, a busca por um par, independente dos planos de reprodução, deixa inúmeras pessoas em colapso, afim de cumprir a missão ou simplesmente ter alguém qualquer, até mesmo sem muitos critérios de exigência para suprir todos os seus anseios sociais, quanto com as suas necessidades emocionais e físicas (e porque não financeiras e psicológicas também? Põe tudo ai na conta!)
Seguindo a lógica do ciclo, após crescer (pelo menos na maioria das culturas ocidentais), se inicia a missão que move o mundo: a busca por um par perfeito.
Dos contos de fadas aos aplicativos de relacionamento, parece que tudo é motivado a te fazer encontrar um parceiro ideal e montar uma família de comercial de margarina ou pelo menos uma que pareça perfeita no story do instagram.
E como poderia ser diferente, se em todo canto estão todos o tempo todo dizendo que não podemos estar só, que a solteirice é fracasso, que devemos quase que obrigatoriamente ter alguém, que não há felicidade sem um par romântico e especialmente para as mulheres: que toda sua vida deve ser pautada a traçar um caminho até o casamento, que será o prometido dia mais feliz da sua vida.
Não somos nosso status de relacionamento e não deveríamos depender dele para viver, para comemorar qualquer data, para ser feliz, nem mesmo para se reproduzir.
Há sempre outras maneiras e possibilidades, mas é de costume só seguir um script heteronormativo imaginário sem se questionar se é isso mesmo que queremos ou como gostaríamos de fazer isso, caso já não estivesse tudo pré-programado socialmente.
Que fique claro que eu amo o amor. É ótimo estar em relações afetivas saudáveis e compartilhar momentos felizes com outras pessoas, seja romanticamente ou não. Mas, sempre lamento muito quando vejo pessoas incríveis, tornando-se casais siameses, se resumindo aos seus afetos românticos e se anulando através das suas relações, muitas vezes superficiais, falando de si mesmas apenas no plural, incluindo o parceiro em tudo que faz sem ter nenhum prazer individual na vida. Ou então vivendo a vida em busca de uma relação assim.
Amar não é se fundir com o outro, não é se anular. É muito mais gostoso amar cada um com sua individualidade.
Se as motivações para uma união são frívolas, tudo adiante também tende a ser. Em um mundo que nos obriga a ser pares é preciso antes saber ser ímpar, entendendo sempre que duas metades não se completam, porque primeiro devemos ser inteiros sós, para então ser inteiro com outro. E pra ser inteiro, é necessário antes saber de si, se conhecer e principalmente se amar.
Terceirizar a própria felicidade é a receita para o fracasso. Seja o que for que você está procurando em outra pessoa, você pode, e deve encontrar em você antes. Só você pode se fazer feliz, e depois disso, então, pensar em fazer alguém feliz e colocar outro serzinho no mundo.
O ciclo da vida fica mais completo se nascermos, de fato crescermos, nos tornarmos seres humanos melhores, para aí então se reproduzir (ou não) e enfim, morrermos.
Nosso legado deveria estar primeiro em enriquecer nossas ideias, pensamentos, experiências e tudo mais que podemos ser para compartilhar com quem amamos em vida, mais do que os bens materiais que iremos deixar de herança aos nossos sucessores.
Em um futuro distópico, uma lei proíbe que as pessoas fiquem solteiras. Qualquer homem ou mulher que não estiver em um relacionamento é imediatamente preso e enviado ao Hotel, um lugar onde terá 45 dias para encontrar um parceiro. Caso não encontrem ninguém, essas pessoas são transformadas no animal de sua preferência e soltas no meio da floresta.
Soa familiar? Eu, particularmente, escolheria ser um gato.
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